Quem sou eu

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

QUEM REVELARÁ O MISTÉRIO QUE TEM A FÉ? E QUANTOS SEGREDOS TRAZ O CORAÇÃO DE UMA MULHER?


Dormi pensando nessa música ontem. Quantos segredos traz o coração de uma mulher? Difícil mesmo responder! Difícil para as próprias mulheres. E falo sobre isso agora porque muito tenho sido questionada a respeito do que penso. Mas, como escreveu Clarice Lispector, sou um mistério, principalmente para mim. Ah!Como eu queria a leveza de me entender, nem que fosse só de vez em quando! Seria maravilhoso! Mas, como bem sabe quem convive comigo há anos, entender-me parece ser mais complexo do que a qualquer outra mulher.
Tentam extrair de mim o que não sou... e eu me pergunto se gostaria de ser, se é possível ser, ainda que apenas nos momentos necessários. E eu me pergunto até mesmo se há necessidade desses momentos! É possível, por exemplo, a mim, ser fatal? Caros amigos, vocês que me conhecem tanto (inclusive do quanto eu mesma me desconheço), vocês que, mesmo me vendo alegre, falante, eloquente em cima de um palco de teatro, sabem da minha timidez, sabem da origem do apelido caracol ( aquele serzinho que se fecha em si, que se esconde numa casa construída nas costas)... vocês que sabem bem dessa minha vontade de ser invisível muitas vezes; vocês conseguem me ver fatal??? É possível para mim a ousadia de ser fatal? De dizer a um homem tudo o que ele gostaria de ouvir, tudo o que ele mereceria ouvir? É possível que eu me transforme assim numa mulher sedutora, provocante, que sabe exatamente o que falar ou fazer para enlouquecer alguém? Ou a sedução é algo que está em nossas cabeças? Ou provocante é ser exatamente o que somos e esperar que isso seja o suficiente para o outro?
Se faço essas perguntas é porque realmente busco respostas. Não consigo me ver fatal! Acho que nem se eu tivesse a boca da Angelina Jolie! E eu até acho que entre quatro paredes vale quase tudo, mas não sei até que ponto esse tudo tem a ver com a mutação de um ser em outro. Difícil organizar minhas ideias! Talvez porque de fato eu seja um ponto de interrogação. Mas pretendo encontrar a resposta, as respostas e, se for possível, uma mulher fatal dentro do caracol. No entanto, só quero encontrá-la se me provarem que existe mesmo esse lance de ser A PODEROSA. Porque de fato eu sempre achei que, do meu jeito, eu era envolvente. Eu sempre achei que, embora sem o bocão da Angelina, sem a ousadia das fatais, eu era atraente. Aliás, eu sempre achei que, no fundo mesmo, ser mulher fatal estava além do que se pode ver ou ouvir. Não é só o que eu mostro e não é só o que eu falo... é o conjunto do que sou, é o que de verdade há em mim. Pelo menos era assim que eu achava. Mas posso estar errada. E só quero saber se estou.
Então, posso ser fatal ou estou fatalmente condenada à timidez?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Como anda sua consciência?

" Dizes-me: tu é mais alguma coisa que uma pedra ou uma planta?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras,
porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas.
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que ser diferente."
( Fernando Pessoa)

Li este poema de Fernando Pessoa hoje e achei perfeito! Um pouco confuso, se lido rapidamente. Mas se lermos como devemos viver a vida- pensando sobre- logo o nó se desfaz. Porque ele é simples e óbvio. Há aqui uma comparação da humanidade com as pedras e plantas. E acho que ele escreveu isso para nos causar raiva mesmo, pra ver se, causando raiva, causaria também uma revolção dentro de nós, uma vontade de provar que somos mais ( muito mais!) que pedras e plantas. Ele ressalta, é claro, que existe uma diferença entre nós (humanidade) e entre os seres inanimados: nós temos consciência, e eles não. Mas fora isso podemos ou não ser diferentes, "porque ter consciência não nos obriga a ter teorias sobre as coisas." Ou seja, ter consciência no primeiro momento nos faz apenas saber que existimos, enquanto que as pobres pedras e plantas não sabem de si. Mas ter consciência não significa dizer que sabemos para quê existimos. E esta é a grande questão da poesia: afinal, qual nosso sentido aqui na Terra? Qual nossa função? O que fazemos aqui é de fato o que deveríamos fazer? E Fernando Pessoa nos esclarece isso parcialmente, porque deixa claro que ter consciência não é nada se não fazemos bom uso dela. Ou seja, estamos aqui primeiramente para usar corretamente nossa consciência, para nos valermos de boas idéias. Idéias estas capazes de transformar o mundo em que vivemos. Idéias que saiam do campo da consciência e virem ações. Como as que impulsionaram Alfred Blalock à descoberta de como fazer cirurgias cardíacas, como as que motivaram Zumbi a lutar com destreza contra a escravidão, como as que provocaram no profeta Gentileza a vontade de se tornar "amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento"( assim ele se dizia), pintando nos viadutos do Rio de Janeiro mensagens de paz e amor. Enfim, como as que incentivaram Fernando Pessoa a nos insultar com sua poesia crítica para ver se, assim, sentiríamos vontade de ser além das pedras e plantas. Porque se Deus nos criou com essa diferença, certamente não foi à toa. A poesia realmente me incomodou bastante, fez-me repensar a própria vida, o modo como venho agindo. E ao final de meus pensamentos, senti-me mesmo uma pedra: das maiores e mais pesadas! Mas senti também a vontade de mudar, a vontade de usar essa diferença que o Criador nos deu em relação aos outros seres, para fazer algo que realmente valesse a pena! Quero mesmo gastar minha consciência, porque a mim pouco importa só saber que existo. Quero dar sentido a essa existência! Quero sentir-me feliz por existir! Quero ver minha vida acontecendo... já que Deus plantou em mim a semente, quero ser além de uma árvore que dê sombra: quero dar frutos! E talvez se todos se sentissem incomodados com sua condição de pedras que sabem de si, e se esse incômodo fosse tão grande ao ponto de darem um primeiro passo, talvez houvesse jeito pro mundo. Porque quem usa de fato a consciência para o que Deus a criou, faz como os poucos que citei acima: promovem o bem para a humanidade, por entenderem a lição por trás do "AMÉM": AMEM!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Em busca da terra do nunca




Sabe o que eu sempre achei sem graça no cinema? Quando as cenas mostravam o filme dentro do filme. Ou a peça teatral dentro do filme. Tipo assim: os personagens estão em sua casa vendo TV, e as cenas do que eles vêem são mostradas no filme que nós vemos... deu pra entender? Então os personagens todos começam a rir de uma cena engraçada. No entanto, aquilo só tem graça para eles. Para nós o que importa não é a história que eles vêem, mas a história sobre eles que estamos vendo. Coisa chata e complexa a que estou dizendo, mas prometo que vai melhorar agora! O fato é que sempre detestei quando qualquer filme mostrava cenas de outras cenas. Na minha opinião se o personagem ia ao teatro, deveria ser mostrado apenas ele entrando e saindo do local. Pra que mostrar parte da peça que não ia fazer o menor sentido para nós? Mas tudo isso eu pensava antes de assistir ao maravilhoso "Em busca da terra do nunca"!!! Tão perfeito de um jeito que nem sei se vou conseguir falar de toda a sensibilidade que há na história.

Primeiro é preciso dizer que o filme é baseado em fatos reais, e conta como o dramaturgo James Barry se inspirou para criar a fantástica história do Peter Pan. Depois é preciso que sibam que Johnny Depp interpreta James Barry. E para quem o viu como o "mãos de tesoura" e como "Willy Wonka" da fantástica fábrica de chocolate, já é possível adivinhar que se trata de uma interpretação das mais magníficas, doces e sensíveis. Bem como deve ter sido aquele que de verdade imortalizou o menino Peter. Sim, porque esta é uma grande surpresa: o Peter existiu mesmo. Não daquele jeito de criança eterna. Mas existiu com o mesmo nome. E era uma criança amiga de James. Um menino que apareceu para ele quando o dramaturgo já não escrevia grandes espetáculos, já não fazia mais sucesso. Mas a amizade com aquele garoto e seus irmãos trouxe um mundo de novas possibilidades para James Barry; abriu caminho para um universo antes nunca explorado: o universo infantil. E de repente passamos a ver Peter Pan em seu próprio criador, pois é assim que ele se mostra: um adulto com alma de criança. Um adulto com vontade de brincar, de encontrar a terra do nunca ( e não é que ele acha?), de sorrir das grandes bobagens do cotidiano, de fazer guerra de travesseiro, de correr com medo de um crocodilo que engoliu um despertador, de enfrentar piratas imaginários, de ser feliz sem medo. James vai aos poucos descobrindo quão maravilhosa pode ser a vida quando nos deixamos levar por idéias leves e infantis. E ele consegue assimilar tão bem isso que passa a querer fazer o que as crianças fazem de melhor:dividir. Repartir mesmo! Não só o pedaço de chocolate, mas especialmente a vida, as descobertas, a infância... e é dessa vontade de repartir a experiência nova que James Barry escreve Peter Pan. E, pasmem! A peça é mostrada no filme. E é definitivamente perfeita! De encher nossos olhos, nossa alma e nosso coração! De encher mesmo nossa vida! De nos fazer acreditar que tudo pode ser mais bonito, mais feliz! De nos fazer sonhar e pensar que não é tão ruim assim o mundo das ilusões, da fantasia... Ahhh... Realmente o filme e a peça dentro do filme nos fazem acreditar num mundo melhor. E nos fazem também repetir a máxima dos nossos mais antepassados possíveis: as crianças são mesmo a maior esperança que pode existir!!! Depois da peça, James Barry voltou a fazer sucesso. E eternizou essa estória linda que todos nós conhecemos. No entanto, mais linda ainda é a história da estória. Por isso, todos os adultos do mundo inteiro deveriam assistir ao " Em busca da terra do nunca"! E se vocês sentirem vontade de voar até Neverland, peçam ajuda a Sininho. Não duvidem: se quisermos, as fadas podem existir!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

SÓ SEI QUE NADA SEI!


Uma vez li em algum lugar uma frase que dizia assim: " O sim e o não são iguais:definem. O que mata é a dúvida." E hoje estou me sentindo assim. Tanto que nem vontade de escrever tenho. Minha mente explodindo de palavras, mas há um impedimento. Porque estou com a sensação de que não sei exatamente o que quero... e isso é muito ruim. Na verdade o que quero resume-se à felicidade. Mas infelizmente ela não acontece assim, como num toque de mágica, muito menos como nos filmes. Ah, se fosse! Porque aí eu saberia que o autor estaria preparando um final espetacular para a mocinha. Só que na vida é diferente, porque sequer há mocinhas e vilões. Somos todos uns e outros. E o grande autor de nossas vidas nos deu o mais perfeito, mais complexo e árduo presente: o livre arbítrio. Ou seja, a escolha é nossa. E quando existem dúvidas e medos no caminho, não tem jeito. É preciso decidir para que a vida não pare. Ou para que a escolha não vá produzir no final uma grande tristeza. Meu Deus! Por que me fizeste tão cheia de pensamentos?! Como doem vez por outra. No entanto, saberia eu viver sem eles? Eu só queria fazer como Oswaldo montenegro e cantar: " Estou mais leve e de branco..." No mundo dos artistas parece tudo tão mais fácil, não? Bobagem! Eu também faço arte. E acho que é justamente ela que me enlouquece tanto.
Voltando ao autor da vida, já me disseram que se eu pedir com toda força pra Ele me ajudar a decidir, Ele vai fazer. Vai mesmo? Porque o que eu preciso agora é quase perder meu livre arbítrio, para que Ele me tome nos braços, como a uma criança, e me leve exatamente pra onde julgar que serei feliz. Meu Deus! Logo eu que sempre fui tão simples, sempre sonhei com uma casinha no pé da serra, sempre fui feliz com tão pouco... o peso das indecisões roubam minha paz. Porque eu ainda sonho com a felicidade, mas não sei onde ela está. Além de Deus, onde ela está? Além dos sobrinhos queridos, da mãe, do pai... onde ela está?
Sem ter mais o que dizer, deixo aqui minha prece, para que Deus invada meu ser com suas idéias, para que eu seja tomada por elas e, no meio desse percurso, eu enxergue claramente o que me faz feliz. Amém.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

CORTANDO A "GRAMA" !!!


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Sabe aquele prazer que se sente em coisa alguma? Pois é sobre ele que eu quero falar. Tentarei ser breve, porque nem eu mesma tenho mais paciência de me ler, de tanto que eu escrevo. Por exemplo: tinha necessidade de eu comentar essa besteira aqui? E mais essa? Só coisas inúteis que divagam, divagam, perdem tempo e paciência dos leitores e não vai direto ao ponto. Até porque o ponto é o que importa. Sei lá, parece que eu não consigo me livrar dessa mania de explicar a explicação da explicação da explicação. Mas vou parar! Agora!
Como eu iniciei, quero falar dos prazeres que se sentem em coisa alguma. E juro que não é preciso que me internem como louca, porque é sim possível ter prazer em coisa alguma. A verdade é que essas coisas não são tão nenhumas assim. É só observarem as crianças, que vocês terão uma lista de como perder tempo na maior! E, ironicamente, achá-lo! Gastá-lo mesmo com o que tem valor. Porque criança é esse negocinho que consegue se divertir muitíssimo só de sentir o vento bater mais forte. Eles têm uma imaginação incrível!!! E sorriem sorrisos de dar inveja, de enlouquecer qualquer um! Eles fazem programas de graça, sem gastar um tostão sequer, e são felizes. E eu me pergunto por que os adultos esquecem tão rapidamente como era fácil ser feliz? A criança desenha um sorriso numa folha de caderno e diz:" Mãe, estou feliz!" E a mãe sorri muuuuito! Percebo que os pais voltam, então, a ser crianças com seus filhos. Que bom! Nem tudo está tão perdido. As crianças sorriem da cara engraçada que o bicho fez, do quanto as minhocas se contorcem para andar, do pai que chegou mais cedo do trabalho e vai poder botar o filho pra dormir (sorriso de muita felicidade, vale ressaltar!), sorriem quando pintamos seu rosto de palhaço, quando são pegues de surpresa por um banho de chuva (quanto mais toró, melhor!- e pra quem não sabe, toró é uma chuva torrencial, forte mesmo! Os adultos correm delas. Mas as crianças correm para elas, sempre à procura de uma biqueira.); elas sorriem quando estão correndo... E um dia desses eu quis imitar meu sobrinho de 2 anos. Estávamos na fazenda e ele desembestou a correr na direção do açude. Quanto mais o vento o ajudava a ir adiante, mais ele sorria. Eu corri atrás dele, vendo a hora ele se estabacar no chão. Mas quando ouvi suas risadas, não resisti: deixei-o correr até que ele sentisse vontade de parar. E continuei correndo com ele. De repente fui tomada por sua alegria, e comece a rir também. Nem sei se ri de seus risos ou de minha falta de forma ao tentar alcançá-lo em vão; mas sorri. E percebi que não estava simplesmente alegre; eu era feliz mesmo. É que às vezes a gente esquece que é preciso tão pouco para ser assim. Eu coloco, então, minha força nas crianças. Se eu estiver triste, basta o contato com uma delas, seja quem for.
E hoje à tarde vivi um pouco desse prazer em coisa alguma. No entanto eu não estava acompanhada de crianças. Mas estava ao lado de gente que talvez também se contagie muito com elas, e começo a achar que a convivência acaba nos infantilizando um pouco também. Estávamos eu e uma amiga vendo o irmão dela cortar as plantas da casa, podá-las. Onde ele ia, íamos atrás. E convenhamos que este tipo de programa é coisa que só criança mesmo pode gostar. Quem nunca viu um menino ou uma menina seguindo os passos de um adulto enquanto ele trabalha? Isso é até clássico! Às vezes o adulto até se zanga, e grita em português bem "dizido": " Meninos, 'são' daqui! Vocês 'tão' me atazanando o juízo!" Fala sério! Todo mundo já viveu ou viu um momento assim! E a gente, que parece ter passado uma borracha na infância, nem se lembra que razão leva as crianças a gostarem tanto de olhar um adulto trabalhar. Pois bem, eu e minha amiga hoje ficamos assim, exatamente como duas crianças. Onde seu irmão ia, nós íamos atrás, fiscalizando pra ver se o trabalho estava sendo bem feito, ouvindo as piadas dele ( porque ele perde o amigo, mas não perde a piada)... Até que de repente ela se deu conta de nós duas ali, naquela situação, e comentou:" Vê só que programão! Eu e você olhando o Júnior cortar as plantas!" E quando ela falou, eu também me dei conta. E começamos a rir. Exatamente aquele riso de criança. E isso pagou a tarde toda, deu sentido ao "nada" e mostrou cada vez mais claramente que a felicidade do homem está nas relações. Somente nelas. Onde é possível relacionar-se com o outro, também aí se pode ser feliz. Simples assim. Tão simples que fica difícil de acreditar, porque vivemos numa cultura em que o complexo encanta muito mais. Que nada! Que grande bobagem! " Há quem veja no nada um quê de encanto e magia. Os que tem muito não enxergam, pois é cega a hipocrisia."
Gostaria de agradecer à minha amiga pela tarde maravilhosa. Na verdade, pelos dias maravilhosos que passo no seu lar, com seus familiares. Tenho fortalecido minhas antigas idéias acerca da vida e da felicidade. Tenho compreendido, no convívio de vocês e com vocês, que estarmos juntos já é uma boa razão para sermos felizes. Talvez seja mesmo a melhor razão.
Termino então pedindo que vocês me ajudem a aumentar minha lista de coisas bobas que nos fazem muito felizes. O Oswaldo Montenegro, no seu livro Vale Encantado traz algumas, num texto chamado "Pensar em coisas lindas": balas, travessuras, carinho, carrinho, beijo de mãe, brincadeira de queimado, colo de pai, história de avó, sorvete de chocolate, céu amarelo, caramelos, guerra de travesseiros, boneco de areia, amigos... Enfim! Estas são as "bobagens" do tio Babo ( olha a intimidade!)
Mas quais são as bobagens infantis e alegres que você lembra? Por favor me mande através de comentários, porque quero lembrar de fazer uma delas a cada dia, para que cada dia, haja o que houver, seja motivo de sorrir.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

As fores da minha avó



As flores da casa da vovó não me saem da cabeça. Não que fossem as mais lindas de todas as já vistas por mim. Na verdade eram bem simples, bem comuns; dessas que se encontram em jardim qualquer. Mas eram especiais para mim. E para minhas primas também, acredito. Na verdade, chegavam a ser importantes devido à serventia: usávamos muito como alimento nas brincadeiras de casinha. Isso mesmo! As flores da casa da vovó eram a comida! E todo tipo de comida, diga-se de passagem. Macarrão:flores enroladinhas, feito tirinhas. Carne: pétalas inteiras. E pra papinha do bebê, muitas flores bem amassadinhas, esmagadinhas mesmo.

Quando a vovó dava por isso, era menina pra todo lado despontando nos terreiros da fazenda, porque ela brigava muito! " Vocês não têm o que fazer não? Cadê as mães dessas meninas? Vê se tem cabimento destruir meus canteiros plantados com tanto trabalho! Ora mais!"

Para nós era tão natural a existência daquelas flores que não entendíamos o drama da vovó! Afinal, por mais que ela brigasse, nós sempre dávamos um jeito de brincar com as flores de novo. E por mais que arrancássemos, sempre apareciam mais; de modo que a vovó não passava de uma chata mesmo aos nossos olhos. Porque não tinha razão para se importar com as flores que Deus cuidaria de devolver à natureza.

A maior( e melhor) razão para tirar as flores não era simplesmente a brincadeira de casinha. Na casinha elas serviam de comida, de enfeite para a sala sempre pronta para receber visitas, de buquê que os namorados(primos ou imaginários) davam às amadas (nós-claro! E isso é uma constatação de que a mulher já na infância entende de cavalheirismo, romantismo e essas coisas que o tempo moderno tem apagado. A culpa deve ser desses mil contos que sempre acabam em príncipes encantados! Vou lembrar disso na hora de escolher os livros da filha que quero ter.) Enfim, voltando à serventia das flores, elas eram principalmente roubadas do quintal da vovó para serem dadas às mães , tias e avó: nossas mães, nossas tias e nossa avó. As mulheres tão queridas e amadas por nós. As mulheres que olhávamos e admirávamos.Quando chegaria nosso tempo de ser como elas? Seríamos como elas de fato? Altas, loiras, morenas? Teríamos como elas tantos filhos? Deitaríamos numa rede para que um desses filhos penteasse nossos cabelos, fizesse cafuné e ouvisse nossas histórias? Teríamos meninas para chegar com flores arrancadas do canteiro da avó? Ah! Como eu desejava isso! Eu imaginava mesmo uma reunião imensa de parentes na fazenda, cada mulher como sua mãe, com sua prole... e quem sabe até uma dessas mães(agora avó) não se queixasse das netas destruindo as flores da bisa? Eu sonhava mesmo com tudo isso. Mas dada à modernidade dos tempos, a fazenda tem andado sozinha. A vovó adoeceu da pior doença que a mente pode ter: esquecimento. E só Deus pode saber se ao olhar seu canteiro sem flores ela se dá conta disso. Pode ser que ela nem se lembre do orgulho que tinha de suas rosinhas. E pode ser, o que é bem pior,que ela, em seu silêncio, em sua ausência, sinta falta de seu canteiro, sem saber ao certo oque aconteceu: se pararam de cuidar ou se suas netas conseguiram arrancar a última das rosas. Mas se ela pudesse entender eu diria que na verdade Deus não descuida das flores arrancadas pelas crianças. Deus gosta de ver brincarem as crianças. E enquanto elas brincam, ainda que destruindo a natureza aos olhos de um adulto, Deus entende que elas apenas comungam da criação. E Ele deve de sorrir muito com isso!(E que isso sirva de conselho a todas as avós que cultivam flores e netos.) Se minha avó pudesse entender eu diria que nem todo o canteiro se foi ainda. Foram as filhas. Cresceram as netas e se foram também. Mas uma rosa ficou, contraditoriamente esquecida, para nos lembrar do valor que ela tem: Rosa- Lizeth, em seu silêncio querendo falar que o canteiro só tem sentido quando as rosas-filhas se unem, para que as rosas -netas também possam estar juntas relembrando as brincadeiras de casinha e, talvez, contando aos nascidos neste tempo o quanto valeu a pena cada dia de flor.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O CORAÇÃO TEM RAZÕES QUE A PRÓPRIA RAZÃO DESCONHECE...


O que faz você baixar a cabeça? O que faz caírem seus olhos para o chão, como se a procura de um buraco bem fundo? Lembra aquela brincadeirinha da infância: "o buraco é fundo, acabou-se o mundo"? Pois então! O que faz seu mundo desabar? O que em você é tão grave que você não gostaria de revelar a ninguém? O que há que envergonha sua existência? O que traz um profundo sentimento de indignidade? Acredito que para cada pessoa, há uma resposta muito singular. Porque aquilo que me faz cair pode ser a mesma razão pela qual um outro se levante feliz todo dia. Há quem não se sinta feliz com uma boca tão carnuda, e por isso sequer ouse usar um batom escuro, para não chamar ainda mais a atenção para seu "defeito". E há sempre uma Angelina Jolie que abuse dos batons vermelhos! Há quem estremeça dos pés à cabeça, tenha as mãos suando frio e gagueje muitíssimo se alguém lhe pede para falar em público. Eu, por exemplo, já fiz até xixi na roupa( na sala de aula) com vergonha de pedir à professora para ir ao banheiro. E há quem não perca a chance de se colocar para uma multidão. Há quem sofra com o alcoolismo de um pai e se anule por isso. Há quem siga o caminho do pai. E há quem lute para ser exatamente diferente. Que razão levou um e outro sujeitos à mesma condição a não agirem igual? Vai saber! Vai saber! Por quê? É simples! Porque cada coração tem sua razão. Cada um sabe exatamente onde seu sapato aperta, onde seu calo dói. Ora! Quando cheguei em casa da escola, no dia lá em que fiz xixi na sala de aula, minha mãe brigou comigo: "Por que você não pediu para ir ao banheiro? Você já tem 11 anos! Por que não falou com a professora?" E eu me calei até para minha mãe. Se ela não entendia minha timidez, como querer que os outros entendessem? Como tentar explicar o inexplicável? Como falar do que estava dentro de mim, consistia a pessoa que eu era e, no entanto, me machucava tanto? Acho que nunca ninguém imaginou o quanto eu sofria no auge da minha timidez! Será que as pessoas achavam realmente que era opção minha ser assim? Que louco opta por ser tímido ao ponto de não pedir para ir ao banheiro? Não existe! A timidez foi o sapato que me apertou a maior parte da minha vida. Foi por ela que eu engoli os maiores sapos também. E tudo o que eu queria era ser diferente! Mas não conseguia. E quanto mais brigavam comigo exigindo uma mudança de atitude, mais eu fraquejava, mais eu me intimidava, mais eu sofria! No entanto, ninguém se dava conta. Sabe por quê? Porque cada um tinha também seus calos, seus corações, suas razões. E estes já eram suficientemente grandes para se importarem com os outros. Talvez os tempos de timidez me fizeram entender isso e me deram um pouco de sensibilidade para tentar buscar as razões dos outros. Talvez por isso eu nunca tenha me alongado tanto nos desentendimentos com as pessoas, porque em pouco tempo eu já estava entendendo as razões de cada um. Se não entendendo, pelo menos aceitando que elas existiam. Esta, sem dúvida, é também a razão pela qual às vezes me exploram, aproveitam-se de minha amizade, etc. O que quero com essa conversa toda? Tentar explicar um pouco do encanto do filme " O leitor". Porque a maioria das pessoas se pergunta: "Ela passou por tudo isso só porque não sabia ler??!!" O que mata é o tal do "só". O "só" é diferente para cada um. É o que eu dizia no começo: ninguém pode julgar que coração move cada razão. Não dá pra saber o que é a falta da leitura quando se sabe ler, ou quando não se dá importância a isso. Não dá pra saber o que é ser tímido quando se é extrovertido, eloquente, enturmado. Não dá simplesmente pra sair julgando sem conhecer de fato o coração de cada um. É claro que seria ótimo se alguém chegasse pra personagem e dissesse a ela que não valeria a pena pautar sua vida em torno daquilo, porque ingressar em campos de concentração como guarda e ser responsável pela tragédia que aquilo era não vale por nada mesmo, nem mesmo pela "frescura de querer esconder que sabe ler". Seria perfeito se o super homem aparecesse pra dizer que prisão perpétua é muito pior do que não saber ler, então não valia ela guardar este segredo e ser presa pela atitude impensada. Eu também torci por esse final, porque doeu em mim vê-la condenada à prisão perpétua como se ela mesma tivesse inventado o nazismo. Doeu como se a personagem fosse real. E acho que doeu porque eu enxerguei a vida assim. Vida em que nem sempre aparecem os super-homens. E quando aparecem, nem sempre conseguem nos salvar das tolices em que acreditamos, porque as tolices só são tolas para eles. Eu tardei a perder minha timidez. Na verdade não a perdi de um todo. Continuo sem saber o que dizer em muitas situações, continuo sem coragem pra reclamar quando furam a fila(bem na hora em que vou ser atendida), continuo com dificuldades de contar as coisas pra minha mãe( porque sempre vejo seu olhar reprovador da infância). E olha que nem sempre ela me reprova! Mas fazer o que se ainda me sinto assim? Um dia desses me peguei tendo uma conversa séria com meu irmão, questionando algumas atitudes de sua vida, falando de Deus, insistindo que ele precisava mudar e dizendo que o amava muito. Mas essa foi a primeira vez que tive uma conversa séria com alguém. Séria nesse ponto que mexe com relacionamentos. Porque sempre que precisei falar sobre coisas muito profundas, foi através de cartas que o fiz. Cartas pra mãe, cartas pro pai, cartas ao namorado, aos amigos... sempre cartas! Sempre cartas! Mas eu precisava falar com meu irmão. E esta era uma conversa adiada por meses. Tinha de ser olho no olho, porque cartas( embora representassem exatamente o que sou) não eram suficientes. Então, falei. Custou muito para mim, porque me faltava o jeito de fazer a coisa, de falar com precisão, de escolher as palavras certas... enfim, consegui! A muito custo, mas consegui. Parece bobagem, né? Mas não é! Você que está me lendo agora poderia ter feito isso sem esforço, mas será que sem o mesmo esforço você escreveria cartas? Pintaria quadros? Escreveria peças de teatro? Tocaria algum instrumento? Tomaria banho de chuva sem se preocupar com gripe? Montaria à cavalo? Subiria serras? Cada um sabe de si, do quanto aquilo pesa ou não na sua vida. E sabe quando eu aprendi a pedir aos professores para ir ao banheiro? Não foi quando me pressionaram e disseram que era tolice ser tão tímida. Não foi mesmo! Foi quando um super-homem me salvou. Claro que ele não fez isso insistindo como os outros em dizer que eu estava sendo tola. Claro que não! Porque assim ele também fracassaria. Aliás, ele não! Ela! Porque meu super-homem foi uma mulher, uma professora de português que tive na adolescência e que, tão logo percebeu minha timidez, deixou de chamar meu nome na hora da chamada. Ao invés disso, ela levantava o olhar para ver se eu estava na sala. E quando me via, marcava minha presença. Desse modo eu fui me sentindo segura em sua aula. Ao invés de me amedrontar como faziam os outros professores(exigindo que eu lesse em voz alta para a turma toda, etc), ela recolhia minhas redações. E quando gostava de alguma, lia para a turma. E assim eu tive coragem de dizer pra ela que fazia poesias. Ela as leu, gostou, comentou com os demais alunos. De repente um monte de gente na escola me encomendava poesia, conversava comigo. Eu não era mais apenas a garota esquisita que sentava na última cadeira da sala de aula. Eu tinha meia dúzia de amigos, e depois a dúzia toda. E depois mais, e mais, e mais... até que me dei conta de que a turma toda era de amigos e não havia razão pra tanta timidez. O resulado foi que me tornei oradora da turma na conclusão do 30 ano. Eu falei no microfone pra escola toda ouvir. E decidi que queria ser como ela: uma professora que enxergasse seus alunos. Caso ela um dia entre no meu blog, vou registrar seu nome pra ressaltar o quanto sou grata! Norma Arruda: é assim que ela se chama. E eu a admiro muitíssimo! Enfim, escrevi tudo isso só para que as pessoas entendessem que ao olhar para as escolhas dos outros, especialmente as erradas, antes elas procurassem ver as razões. Porque às vezes elas podem não existir. Afinal, o mundo está cheio de gente que mata só por maldade mesmo, cheio de gente que sente prazer em ver o outro sofrer, etc. Mas às vezes a razão pode esconder um segredo que, embora não alivie a dor, não justifique de fato o caso, pelo menos existe pra que a gente entenda que poderia ter sido diferente. E no caso da Hanna( personagem do filme) seria mesmo. Porque havia muita sensibilidade nela. Tanta que ela se sentia indigna "só" por não saber ler. "Só!" E é preciso sensibilidade para isso. Aliás, para saber o que sente um adulto analfabeto, peça a ele que escreva algo para você. Depois de ver a reação dele, aí você me confirma o tal do "só"! É só isso que eu peço! E fim.