Quem sou eu

quarta-feira, 8 de julho de 2009

SÓ SEI QUE NADA SEI!


Uma vez li em algum lugar uma frase que dizia assim: " O sim e o não são iguais:definem. O que mata é a dúvida." E hoje estou me sentindo assim. Tanto que nem vontade de escrever tenho. Minha mente explodindo de palavras, mas há um impedimento. Porque estou com a sensação de que não sei exatamente o que quero... e isso é muito ruim. Na verdade o que quero resume-se à felicidade. Mas infelizmente ela não acontece assim, como num toque de mágica, muito menos como nos filmes. Ah, se fosse! Porque aí eu saberia que o autor estaria preparando um final espetacular para a mocinha. Só que na vida é diferente, porque sequer há mocinhas e vilões. Somos todos uns e outros. E o grande autor de nossas vidas nos deu o mais perfeito, mais complexo e árduo presente: o livre arbítrio. Ou seja, a escolha é nossa. E quando existem dúvidas e medos no caminho, não tem jeito. É preciso decidir para que a vida não pare. Ou para que a escolha não vá produzir no final uma grande tristeza. Meu Deus! Por que me fizeste tão cheia de pensamentos?! Como doem vez por outra. No entanto, saberia eu viver sem eles? Eu só queria fazer como Oswaldo montenegro e cantar: " Estou mais leve e de branco..." No mundo dos artistas parece tudo tão mais fácil, não? Bobagem! Eu também faço arte. E acho que é justamente ela que me enlouquece tanto.
Voltando ao autor da vida, já me disseram que se eu pedir com toda força pra Ele me ajudar a decidir, Ele vai fazer. Vai mesmo? Porque o que eu preciso agora é quase perder meu livre arbítrio, para que Ele me tome nos braços, como a uma criança, e me leve exatamente pra onde julgar que serei feliz. Meu Deus! Logo eu que sempre fui tão simples, sempre sonhei com uma casinha no pé da serra, sempre fui feliz com tão pouco... o peso das indecisões roubam minha paz. Porque eu ainda sonho com a felicidade, mas não sei onde ela está. Além de Deus, onde ela está? Além dos sobrinhos queridos, da mãe, do pai... onde ela está?
Sem ter mais o que dizer, deixo aqui minha prece, para que Deus invada meu ser com suas idéias, para que eu seja tomada por elas e, no meio desse percurso, eu enxergue claramente o que me faz feliz. Amém.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

CORTANDO A "GRAMA" !!!


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Sabe aquele prazer que se sente em coisa alguma? Pois é sobre ele que eu quero falar. Tentarei ser breve, porque nem eu mesma tenho mais paciência de me ler, de tanto que eu escrevo. Por exemplo: tinha necessidade de eu comentar essa besteira aqui? E mais essa? Só coisas inúteis que divagam, divagam, perdem tempo e paciência dos leitores e não vai direto ao ponto. Até porque o ponto é o que importa. Sei lá, parece que eu não consigo me livrar dessa mania de explicar a explicação da explicação da explicação. Mas vou parar! Agora!
Como eu iniciei, quero falar dos prazeres que se sentem em coisa alguma. E juro que não é preciso que me internem como louca, porque é sim possível ter prazer em coisa alguma. A verdade é que essas coisas não são tão nenhumas assim. É só observarem as crianças, que vocês terão uma lista de como perder tempo na maior! E, ironicamente, achá-lo! Gastá-lo mesmo com o que tem valor. Porque criança é esse negocinho que consegue se divertir muitíssimo só de sentir o vento bater mais forte. Eles têm uma imaginação incrível!!! E sorriem sorrisos de dar inveja, de enlouquecer qualquer um! Eles fazem programas de graça, sem gastar um tostão sequer, e são felizes. E eu me pergunto por que os adultos esquecem tão rapidamente como era fácil ser feliz? A criança desenha um sorriso numa folha de caderno e diz:" Mãe, estou feliz!" E a mãe sorri muuuuito! Percebo que os pais voltam, então, a ser crianças com seus filhos. Que bom! Nem tudo está tão perdido. As crianças sorriem da cara engraçada que o bicho fez, do quanto as minhocas se contorcem para andar, do pai que chegou mais cedo do trabalho e vai poder botar o filho pra dormir (sorriso de muita felicidade, vale ressaltar!), sorriem quando pintamos seu rosto de palhaço, quando são pegues de surpresa por um banho de chuva (quanto mais toró, melhor!- e pra quem não sabe, toró é uma chuva torrencial, forte mesmo! Os adultos correm delas. Mas as crianças correm para elas, sempre à procura de uma biqueira.); elas sorriem quando estão correndo... E um dia desses eu quis imitar meu sobrinho de 2 anos. Estávamos na fazenda e ele desembestou a correr na direção do açude. Quanto mais o vento o ajudava a ir adiante, mais ele sorria. Eu corri atrás dele, vendo a hora ele se estabacar no chão. Mas quando ouvi suas risadas, não resisti: deixei-o correr até que ele sentisse vontade de parar. E continuei correndo com ele. De repente fui tomada por sua alegria, e comece a rir também. Nem sei se ri de seus risos ou de minha falta de forma ao tentar alcançá-lo em vão; mas sorri. E percebi que não estava simplesmente alegre; eu era feliz mesmo. É que às vezes a gente esquece que é preciso tão pouco para ser assim. Eu coloco, então, minha força nas crianças. Se eu estiver triste, basta o contato com uma delas, seja quem for.
E hoje à tarde vivi um pouco desse prazer em coisa alguma. No entanto eu não estava acompanhada de crianças. Mas estava ao lado de gente que talvez também se contagie muito com elas, e começo a achar que a convivência acaba nos infantilizando um pouco também. Estávamos eu e uma amiga vendo o irmão dela cortar as plantas da casa, podá-las. Onde ele ia, íamos atrás. E convenhamos que este tipo de programa é coisa que só criança mesmo pode gostar. Quem nunca viu um menino ou uma menina seguindo os passos de um adulto enquanto ele trabalha? Isso é até clássico! Às vezes o adulto até se zanga, e grita em português bem "dizido": " Meninos, 'são' daqui! Vocês 'tão' me atazanando o juízo!" Fala sério! Todo mundo já viveu ou viu um momento assim! E a gente, que parece ter passado uma borracha na infância, nem se lembra que razão leva as crianças a gostarem tanto de olhar um adulto trabalhar. Pois bem, eu e minha amiga hoje ficamos assim, exatamente como duas crianças. Onde seu irmão ia, nós íamos atrás, fiscalizando pra ver se o trabalho estava sendo bem feito, ouvindo as piadas dele ( porque ele perde o amigo, mas não perde a piada)... Até que de repente ela se deu conta de nós duas ali, naquela situação, e comentou:" Vê só que programão! Eu e você olhando o Júnior cortar as plantas!" E quando ela falou, eu também me dei conta. E começamos a rir. Exatamente aquele riso de criança. E isso pagou a tarde toda, deu sentido ao "nada" e mostrou cada vez mais claramente que a felicidade do homem está nas relações. Somente nelas. Onde é possível relacionar-se com o outro, também aí se pode ser feliz. Simples assim. Tão simples que fica difícil de acreditar, porque vivemos numa cultura em que o complexo encanta muito mais. Que nada! Que grande bobagem! " Há quem veja no nada um quê de encanto e magia. Os que tem muito não enxergam, pois é cega a hipocrisia."
Gostaria de agradecer à minha amiga pela tarde maravilhosa. Na verdade, pelos dias maravilhosos que passo no seu lar, com seus familiares. Tenho fortalecido minhas antigas idéias acerca da vida e da felicidade. Tenho compreendido, no convívio de vocês e com vocês, que estarmos juntos já é uma boa razão para sermos felizes. Talvez seja mesmo a melhor razão.
Termino então pedindo que vocês me ajudem a aumentar minha lista de coisas bobas que nos fazem muito felizes. O Oswaldo Montenegro, no seu livro Vale Encantado traz algumas, num texto chamado "Pensar em coisas lindas": balas, travessuras, carinho, carrinho, beijo de mãe, brincadeira de queimado, colo de pai, história de avó, sorvete de chocolate, céu amarelo, caramelos, guerra de travesseiros, boneco de areia, amigos... Enfim! Estas são as "bobagens" do tio Babo ( olha a intimidade!)
Mas quais são as bobagens infantis e alegres que você lembra? Por favor me mande através de comentários, porque quero lembrar de fazer uma delas a cada dia, para que cada dia, haja o que houver, seja motivo de sorrir.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

As fores da minha avó



As flores da casa da vovó não me saem da cabeça. Não que fossem as mais lindas de todas as já vistas por mim. Na verdade eram bem simples, bem comuns; dessas que se encontram em jardim qualquer. Mas eram especiais para mim. E para minhas primas também, acredito. Na verdade, chegavam a ser importantes devido à serventia: usávamos muito como alimento nas brincadeiras de casinha. Isso mesmo! As flores da casa da vovó eram a comida! E todo tipo de comida, diga-se de passagem. Macarrão:flores enroladinhas, feito tirinhas. Carne: pétalas inteiras. E pra papinha do bebê, muitas flores bem amassadinhas, esmagadinhas mesmo.

Quando a vovó dava por isso, era menina pra todo lado despontando nos terreiros da fazenda, porque ela brigava muito! " Vocês não têm o que fazer não? Cadê as mães dessas meninas? Vê se tem cabimento destruir meus canteiros plantados com tanto trabalho! Ora mais!"

Para nós era tão natural a existência daquelas flores que não entendíamos o drama da vovó! Afinal, por mais que ela brigasse, nós sempre dávamos um jeito de brincar com as flores de novo. E por mais que arrancássemos, sempre apareciam mais; de modo que a vovó não passava de uma chata mesmo aos nossos olhos. Porque não tinha razão para se importar com as flores que Deus cuidaria de devolver à natureza.

A maior( e melhor) razão para tirar as flores não era simplesmente a brincadeira de casinha. Na casinha elas serviam de comida, de enfeite para a sala sempre pronta para receber visitas, de buquê que os namorados(primos ou imaginários) davam às amadas (nós-claro! E isso é uma constatação de que a mulher já na infância entende de cavalheirismo, romantismo e essas coisas que o tempo moderno tem apagado. A culpa deve ser desses mil contos que sempre acabam em príncipes encantados! Vou lembrar disso na hora de escolher os livros da filha que quero ter.) Enfim, voltando à serventia das flores, elas eram principalmente roubadas do quintal da vovó para serem dadas às mães , tias e avó: nossas mães, nossas tias e nossa avó. As mulheres tão queridas e amadas por nós. As mulheres que olhávamos e admirávamos.Quando chegaria nosso tempo de ser como elas? Seríamos como elas de fato? Altas, loiras, morenas? Teríamos como elas tantos filhos? Deitaríamos numa rede para que um desses filhos penteasse nossos cabelos, fizesse cafuné e ouvisse nossas histórias? Teríamos meninas para chegar com flores arrancadas do canteiro da avó? Ah! Como eu desejava isso! Eu imaginava mesmo uma reunião imensa de parentes na fazenda, cada mulher como sua mãe, com sua prole... e quem sabe até uma dessas mães(agora avó) não se queixasse das netas destruindo as flores da bisa? Eu sonhava mesmo com tudo isso. Mas dada à modernidade dos tempos, a fazenda tem andado sozinha. A vovó adoeceu da pior doença que a mente pode ter: esquecimento. E só Deus pode saber se ao olhar seu canteiro sem flores ela se dá conta disso. Pode ser que ela nem se lembre do orgulho que tinha de suas rosinhas. E pode ser, o que é bem pior,que ela, em seu silêncio, em sua ausência, sinta falta de seu canteiro, sem saber ao certo oque aconteceu: se pararam de cuidar ou se suas netas conseguiram arrancar a última das rosas. Mas se ela pudesse entender eu diria que na verdade Deus não descuida das flores arrancadas pelas crianças. Deus gosta de ver brincarem as crianças. E enquanto elas brincam, ainda que destruindo a natureza aos olhos de um adulto, Deus entende que elas apenas comungam da criação. E Ele deve de sorrir muito com isso!(E que isso sirva de conselho a todas as avós que cultivam flores e netos.) Se minha avó pudesse entender eu diria que nem todo o canteiro se foi ainda. Foram as filhas. Cresceram as netas e se foram também. Mas uma rosa ficou, contraditoriamente esquecida, para nos lembrar do valor que ela tem: Rosa- Lizeth, em seu silêncio querendo falar que o canteiro só tem sentido quando as rosas-filhas se unem, para que as rosas -netas também possam estar juntas relembrando as brincadeiras de casinha e, talvez, contando aos nascidos neste tempo o quanto valeu a pena cada dia de flor.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O CORAÇÃO TEM RAZÕES QUE A PRÓPRIA RAZÃO DESCONHECE...


O que faz você baixar a cabeça? O que faz caírem seus olhos para o chão, como se a procura de um buraco bem fundo? Lembra aquela brincadeirinha da infância: "o buraco é fundo, acabou-se o mundo"? Pois então! O que faz seu mundo desabar? O que em você é tão grave que você não gostaria de revelar a ninguém? O que há que envergonha sua existência? O que traz um profundo sentimento de indignidade? Acredito que para cada pessoa, há uma resposta muito singular. Porque aquilo que me faz cair pode ser a mesma razão pela qual um outro se levante feliz todo dia. Há quem não se sinta feliz com uma boca tão carnuda, e por isso sequer ouse usar um batom escuro, para não chamar ainda mais a atenção para seu "defeito". E há sempre uma Angelina Jolie que abuse dos batons vermelhos! Há quem estremeça dos pés à cabeça, tenha as mãos suando frio e gagueje muitíssimo se alguém lhe pede para falar em público. Eu, por exemplo, já fiz até xixi na roupa( na sala de aula) com vergonha de pedir à professora para ir ao banheiro. E há quem não perca a chance de se colocar para uma multidão. Há quem sofra com o alcoolismo de um pai e se anule por isso. Há quem siga o caminho do pai. E há quem lute para ser exatamente diferente. Que razão levou um e outro sujeitos à mesma condição a não agirem igual? Vai saber! Vai saber! Por quê? É simples! Porque cada coração tem sua razão. Cada um sabe exatamente onde seu sapato aperta, onde seu calo dói. Ora! Quando cheguei em casa da escola, no dia lá em que fiz xixi na sala de aula, minha mãe brigou comigo: "Por que você não pediu para ir ao banheiro? Você já tem 11 anos! Por que não falou com a professora?" E eu me calei até para minha mãe. Se ela não entendia minha timidez, como querer que os outros entendessem? Como tentar explicar o inexplicável? Como falar do que estava dentro de mim, consistia a pessoa que eu era e, no entanto, me machucava tanto? Acho que nunca ninguém imaginou o quanto eu sofria no auge da minha timidez! Será que as pessoas achavam realmente que era opção minha ser assim? Que louco opta por ser tímido ao ponto de não pedir para ir ao banheiro? Não existe! A timidez foi o sapato que me apertou a maior parte da minha vida. Foi por ela que eu engoli os maiores sapos também. E tudo o que eu queria era ser diferente! Mas não conseguia. E quanto mais brigavam comigo exigindo uma mudança de atitude, mais eu fraquejava, mais eu me intimidava, mais eu sofria! No entanto, ninguém se dava conta. Sabe por quê? Porque cada um tinha também seus calos, seus corações, suas razões. E estes já eram suficientemente grandes para se importarem com os outros. Talvez os tempos de timidez me fizeram entender isso e me deram um pouco de sensibilidade para tentar buscar as razões dos outros. Talvez por isso eu nunca tenha me alongado tanto nos desentendimentos com as pessoas, porque em pouco tempo eu já estava entendendo as razões de cada um. Se não entendendo, pelo menos aceitando que elas existiam. Esta, sem dúvida, é também a razão pela qual às vezes me exploram, aproveitam-se de minha amizade, etc. O que quero com essa conversa toda? Tentar explicar um pouco do encanto do filme " O leitor". Porque a maioria das pessoas se pergunta: "Ela passou por tudo isso só porque não sabia ler??!!" O que mata é o tal do "só". O "só" é diferente para cada um. É o que eu dizia no começo: ninguém pode julgar que coração move cada razão. Não dá pra saber o que é a falta da leitura quando se sabe ler, ou quando não se dá importância a isso. Não dá pra saber o que é ser tímido quando se é extrovertido, eloquente, enturmado. Não dá simplesmente pra sair julgando sem conhecer de fato o coração de cada um. É claro que seria ótimo se alguém chegasse pra personagem e dissesse a ela que não valeria a pena pautar sua vida em torno daquilo, porque ingressar em campos de concentração como guarda e ser responsável pela tragédia que aquilo era não vale por nada mesmo, nem mesmo pela "frescura de querer esconder que sabe ler". Seria perfeito se o super homem aparecesse pra dizer que prisão perpétua é muito pior do que não saber ler, então não valia ela guardar este segredo e ser presa pela atitude impensada. Eu também torci por esse final, porque doeu em mim vê-la condenada à prisão perpétua como se ela mesma tivesse inventado o nazismo. Doeu como se a personagem fosse real. E acho que doeu porque eu enxerguei a vida assim. Vida em que nem sempre aparecem os super-homens. E quando aparecem, nem sempre conseguem nos salvar das tolices em que acreditamos, porque as tolices só são tolas para eles. Eu tardei a perder minha timidez. Na verdade não a perdi de um todo. Continuo sem saber o que dizer em muitas situações, continuo sem coragem pra reclamar quando furam a fila(bem na hora em que vou ser atendida), continuo com dificuldades de contar as coisas pra minha mãe( porque sempre vejo seu olhar reprovador da infância). E olha que nem sempre ela me reprova! Mas fazer o que se ainda me sinto assim? Um dia desses me peguei tendo uma conversa séria com meu irmão, questionando algumas atitudes de sua vida, falando de Deus, insistindo que ele precisava mudar e dizendo que o amava muito. Mas essa foi a primeira vez que tive uma conversa séria com alguém. Séria nesse ponto que mexe com relacionamentos. Porque sempre que precisei falar sobre coisas muito profundas, foi através de cartas que o fiz. Cartas pra mãe, cartas pro pai, cartas ao namorado, aos amigos... sempre cartas! Sempre cartas! Mas eu precisava falar com meu irmão. E esta era uma conversa adiada por meses. Tinha de ser olho no olho, porque cartas( embora representassem exatamente o que sou) não eram suficientes. Então, falei. Custou muito para mim, porque me faltava o jeito de fazer a coisa, de falar com precisão, de escolher as palavras certas... enfim, consegui! A muito custo, mas consegui. Parece bobagem, né? Mas não é! Você que está me lendo agora poderia ter feito isso sem esforço, mas será que sem o mesmo esforço você escreveria cartas? Pintaria quadros? Escreveria peças de teatro? Tocaria algum instrumento? Tomaria banho de chuva sem se preocupar com gripe? Montaria à cavalo? Subiria serras? Cada um sabe de si, do quanto aquilo pesa ou não na sua vida. E sabe quando eu aprendi a pedir aos professores para ir ao banheiro? Não foi quando me pressionaram e disseram que era tolice ser tão tímida. Não foi mesmo! Foi quando um super-homem me salvou. Claro que ele não fez isso insistindo como os outros em dizer que eu estava sendo tola. Claro que não! Porque assim ele também fracassaria. Aliás, ele não! Ela! Porque meu super-homem foi uma mulher, uma professora de português que tive na adolescência e que, tão logo percebeu minha timidez, deixou de chamar meu nome na hora da chamada. Ao invés disso, ela levantava o olhar para ver se eu estava na sala. E quando me via, marcava minha presença. Desse modo eu fui me sentindo segura em sua aula. Ao invés de me amedrontar como faziam os outros professores(exigindo que eu lesse em voz alta para a turma toda, etc), ela recolhia minhas redações. E quando gostava de alguma, lia para a turma. E assim eu tive coragem de dizer pra ela que fazia poesias. Ela as leu, gostou, comentou com os demais alunos. De repente um monte de gente na escola me encomendava poesia, conversava comigo. Eu não era mais apenas a garota esquisita que sentava na última cadeira da sala de aula. Eu tinha meia dúzia de amigos, e depois a dúzia toda. E depois mais, e mais, e mais... até que me dei conta de que a turma toda era de amigos e não havia razão pra tanta timidez. O resulado foi que me tornei oradora da turma na conclusão do 30 ano. Eu falei no microfone pra escola toda ouvir. E decidi que queria ser como ela: uma professora que enxergasse seus alunos. Caso ela um dia entre no meu blog, vou registrar seu nome pra ressaltar o quanto sou grata! Norma Arruda: é assim que ela se chama. E eu a admiro muitíssimo! Enfim, escrevi tudo isso só para que as pessoas entendessem que ao olhar para as escolhas dos outros, especialmente as erradas, antes elas procurassem ver as razões. Porque às vezes elas podem não existir. Afinal, o mundo está cheio de gente que mata só por maldade mesmo, cheio de gente que sente prazer em ver o outro sofrer, etc. Mas às vezes a razão pode esconder um segredo que, embora não alivie a dor, não justifique de fato o caso, pelo menos existe pra que a gente entenda que poderia ter sido diferente. E no caso da Hanna( personagem do filme) seria mesmo. Porque havia muita sensibilidade nela. Tanta que ela se sentia indigna "só" por não saber ler. "Só!" E é preciso sensibilidade para isso. Aliás, para saber o que sente um adulto analfabeto, peça a ele que escreva algo para você. Depois de ver a reação dele, aí você me confirma o tal do "só"! É só isso que eu peço! E fim.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA!

Eu simplesmente adoro cantar! Que mal há nisso? Na verdade, para mim, nenhum. No entanto, as pessoas sempre implicam um pouco comigo. No fundo, no fundo mesmo acho que elas implicam por causa da minha voz. Só pode ser! Porque de fato tenho de admitir que não sou nenhuma Marisa Monte. Na verdade acho que até a Xuxa se sai melhor! Rsrsr... Mas eu canto assim mesmo, porque não consigo parar. É incrível, mas todas as situações na vida me levam à música. Outro dia uma amiga se despediu de mim e mal ela disse "tchau" eu soltei um agudo "vá com Deus, o amor ainda está aqui, vá com Deus, e tente por mim sorrir..." É sempre assim! Parece uma mania mesmo de querer conversar através das músicas. Deve ser mais um de meus tiques adquiridos com o tempo.( Como se já não bastasse eu andar pelas ruas contando calçada, dando murro em porta de geladeira, me benzendo três vezes antes de entrar no banho, e depois as três vezes das três vezes, e as três vezes das três vezes até passar meia hora só me benzendo sem tomar banho) Será que estou mesmo destinada à loucura? Se bem que o tique de cantar eu gosto! E se não fosse a voz "tão bonita" acho que meus amigos também gostariam. Meus alunos é que adoram essa minha mania. Eles dizem todos orgulhosos:" A tia Carol sabe todas as músicas do mundo!" Criança é muito inocente mesmo! Eles ficavam testando pra ver se eu sabia cantar músicas com todas as palavras que eles dissessem, e eu sempre cantava. Na verdade, quando eu não sabia nenhuma música, eu inventava. Então eles realmente pensavam que eu sabia todas as músicas do mundo. Muito divertido! Eles são meu público mais fiel. Na verdade eles são meu único público espontâneo, porque todos os outros que me ouvem cantar o fazem sob pressão mesmo. Afinal, quem vai se jogar do carro a toda velocidade só porque eu estou cantando dentro dele? Mas desconfio que vontade é o que não lhes falta! (risos) Mas vejam só se não é melhor, ao invés de dizer um simples bom dia, cantar "bom dia, meu amor! Estou chegando agora, o dia já raiou..." Ou então " bom dia pra mãe natureza, bom dia pro pai salvador, bom dia pra toda criança, pra toda pessoa que planta o amor..." Quando vou dar banho nos meus sobrinhos, eu canto " hora do banho, que hora mais cheirosa, que coisa mais gostosa, as águas vão rolar..." Se vejo um amigo na rua eu canto "como vai você? Eu preciso saber da sua vida..." Se meu namorado reclama do meu jeito exagerado de ser, eu solto "mas eu sempre fui assim, um boêmio, um sonhador pela vida apaixonado. Ser assim não é defeito, me assuma desse jeito, pra que eu fique do seu lado..." E se ele reclama mais ainda, eu berro firme " eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim Gabrieeeela, sempre Gabrieeeela!" E nas vezes em que sofri dei mil vezes uma de Maysa: " Meu mundo caiu..." E quando tudo ficava bem: " Se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi!" Teve situações da minha vida que eu dei um jeito de criar só pra encaixar o tema musical, como quando forcei olhar no fundo do olho de um paquera só pra cantar "tire seus olhos dos meus, eu não quero me apaixonar, ficou em mim o adeus que deixou esse medo de amar... " Vai ver que foi por isso que o carinha nunca quis nada comigo! Gente insensível! Não perceber todo o romantismo por trás das músicas e do olhar! E agora quando estou sem grana canto alegremente "não tenho nada, e tenho, tenho tudo. Sou rico em sonhos, e pobre, pobre em ouro..." E não tenho um tipo de música preferido. Gosto de tudo! Esta é, inclusive, uma das incompatibilidades com meu amado, porque ele é muito elite nas escolhas das músicas. Eu já acho que música é momento! E tem sempre uma, brega ou não, que se encaixa com algo em nós. Então ouço tudo mesmo! Do infantil, passando pelo brega, dando um oi no forró, conversando muito com mpb, dançando o axé, batendo cabeça com o rock, chorando com o clássico e por aí vai! Aprendi com meu pai essa coisa de ouvir toda música. E acho que aprendi com ele também o lance de emprestar as músicas para os acontecimentos da vida, porque um dia, quando era criança, minha irmã com raiva dele disse que ia embora de casa. Então ele a chamou e botou uma música para ela ouvir: " Ainda é cedo, amor, mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora da partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar..." Nossa! Achei aquilo tão lindo que deu até vontade de fugir de casa, só pra ele também cantar pra mim. E mesmo sem entender muito devido à pouca idade, minha irmã também gostou, porque se emocionou. Acho que ela achou importante meu pai escolher uma música para aquele momento. Eu também achei. Tanto que exagerei na dose e hoje escolho música pra cada segundo da minha vida. Meu pai também me ofereceu muitas músicas,mas a primeira e mais marcante foi uma que ainda hoje amo e escuto muito: "Te amo, espanhola, te amo, espanhola. Pra que chorar? Te amo..." Eu também era criança( talvez 11 anos). E gostava dessa música de graça, só de vê-lo ouvir, acho. Porque eu admirava tudo no meu pai. E um dia ele colocou essa música no "repeat" para que eu pudesse ouvir muitas vezes. E eu ouvi abraçada a ele no sofá. Ele chorando e eu chorando sem saber direito se era de emoção ou de medo por não entender o que se passava com ele naquele momento por ele estar tão emocionado. Enfim, hoje essa música me emocina porque lembro de todo amor que tenho por meu pai. E do dele por mim também! Mas, voltando às músicas e aos que não suportam essa minha estranha mania, só tenho uma coisa a dizer: " Viver e não ter a vergonha de ser feliz! Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz!" Ou, pra ter mais opções: " Canta, canta, minha gente! Deixa a tristeza pra lá. Canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar!" ( Carol de Holanda)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

CRIANCICES


PERALTAGEM

O canto distante da sariema encompridava a tarde. E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela. E quando o grito da mãe nos alcançava a gente já estava do outro lado do rio. O pai nos chamou pelo berrante. Na volta fomos encostando pelas paredes da casa pé ante pé. Com receio de carão do pai. Logo a tosse do avô acordou o silêncio da casa. Mas não apanhamos nem. E nem levamos carão nem. A mãe só que falou que eu iria ver leso fazendo essas coisas. O pai completou: ele precisava de ver outras coisas além de ficar ouvindo só o canto dos pássaros. E a mãe disse mais: esse menino vai passar a vida enfiando água em espeto! Foi quase. ( Manoel de Barros)
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Simplesmente eu adoro Manoel de Barros! Nossa! Acho incrível mesmo! E já explico.( Claro! ) Até porque minha mania parece ser mesmo tentar explicar as razões de meus filmes, livros, autores... É como se eu quisesse convencer as pessoas a gostarem do que gosto. Na verdade é um pouco isso mesmo. Não porque eu queira que todos tenham minha preferência. Deus me livre! Adoro isso de ser diferente,porque é o que nos possibilita sempre ter o prazer da novidade. Novo livro, novo filme, nova visão, novas pessoas... e até as mesmas pessoas, mas com idéias novas. O bom da vida é um pouco isso também. Mas se quero tanto convencer as pessoas do que gosto é porque acho que vale a pena mesmo! E como diria um de meus adoráveis(um que atende por Fernando Pessoa, ou Alberto Caeeiro ou...), "tudo vale a pena se a alma não é pequena." E para aqueles de alma bem grande, lá vou eu tentar convencê-los da maravilha por trás de tantas pedras e gravetos do Manoel de Barros. Maneco, como eu intimamente(meu íntimo,porque dele só conheço os livros. E posso dizer que é o que ele é, porque não dá pra fingir tantas poesias) gosto de chamá-lo, escreve aparentemente sobre coisas. Não essas coisas que se pode comprar em lojas. As coisas do Maneco estão aí todo tempo, mesmo que não demos por elas: pedras, gravetos, rios, folhas, mangas, peixes... As coisas de Maneco são assim naturais, de graça para qualquer um que se atreva a olhar para elas com olhos de Maneco. E esses olhos, podem apostar, quase sempre estão cegos na maioria das pessoas. O importante é o que há por trás dessas coisas. Porque ele não fala exatamente delas. Elas são apenas o pano de fundo para mostrar sua relação com a vida e, por assim dizer, com as pessoas, que são o que realmente importa na vida. Maneco vive a natureza e a respeita de tal modo, que não há como imaginá-lo diferente com o ser humano, pois quem comunga do barulho dos galhos ao vento é incapaz de não comungar com gente. E nessa comunhão ele cria verbos novos. Ele é capaz de dizer que folhou a tarde inteira. E eu, boba, fico imaginando como seria isso... folhar... Será que é ficar ao tempo, ao vento, sentindo a natureza na alma,sem preocupação de coisa alguma> Sei lá! Só sei que eu queria um dia folhar também. Queria riachar, queria montanhar, queria manoelar... Acho que ele entende bem das criações de Deus. Assim como a natureza, que faz seu papel bom e belo como Deus ensinou, assim é Manoel. E eu o amo por isso. Talvez eu não saiba conjugar ainda toda a natureza sua (ainda, porque um dia vou conseguir!), mas de peraltagem eu entendo. Mesmo eu, que fui a criança mais tímida de todo o universo, entendo de peraltagem. E por isso escolhi postar esse texto. Porque lembrei de minha infância na fazenda Ouro Preto. Infância bem vivida ao lado de tantos 20 e poucos primos. Nossa! É inacreditável que nos 10,12 anos que tenha durado minha criancice eu tenha feito tanta coisa! Não se impressionem com o que digo, é que daqui a pouco vou fazer 30 anos, mas lembro como hoje meu aniversário de 20, de modo que me pergunto onde foram parar esses 10 anos que nem vi passar> Sinceramente a sensação que tenho é de que dormi com 20 e acordei com 28. Acho que nem sei direito o que fiz nesse tempo. Talvez porque tenha sido o tempo em que eu não soube gastar minha vida. Mas de minha infância eu recordo cada detalhe. Quando adolesci(tornei-me adolescente) eu realmente vi como aconteceu, porque cada dia da minha infância foi muito bem gasto!Entre brincadeiras, peraltagens, quedas, banhos de açude, subidas de serra, joelhos ralados, puxões de orelha... Nem que eu queira seria possível narrar tudo o que vivi, porque não dá pra contar só os fatos, seria preciso mesmo torná-los poesia. Talvez por isso eu me encante tanto com Maneco, porque ele tem gosto e cheiro de infância, liberdade, chuva, colo de avó, galope de cavalo, bodega do vovô, bombom do tio Supimpa... Enfim! Tudo o que sei é que ainda hoje minha mãe me olha com esse olhar de quem se pergunta se eu vou passar a vida toda enfiando água em espeto. E assim como Maneco eu respondo:quase. Mas sei que é um quase que quer dizer sempre, porque pra quem não entende, enfiar água em espeto é essa coisa de fazer poesia, de ver a vida pelos olhos de uma criança e de querer não crescer nunca. " Voar, voar e aprender: pra ser feliz, liberte essa criança que existe em você!"
( Carol de Holanda)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O LEITOR


" O que você seria capaz de fazer para esconder um segredo?"
Nossa! Nem sei como começar a falar sobre este filme! Sabe quando você ainda está digerindo uma comida super pesada? É preciso dias para que tudo se processe. Acho que é assim que me sinto. Tanto que já o assisti 4 vezes, talvez na intenção de mastigar melhor... Posso dizer que sorri, chorei, indignei-me com tudo o que vi. Talvez a expressão correta seja: fiquei passada mesmo! Encantada! E como sou dada a exageros, maravilhada! Angustiada! E vai, vai, vai, vai os tantos adjetivos para dizer de mim depois do filme. E se é verdade que um homem não se banha duas vezes no mesmo rio, porque já não é o mesmo homem; posso dizer que eu também sou um pouco outra depois de "O leitor". Entendam(ou tentem) um pouco de tudo que ainda tento entender: uma mulher que não sabia ler. Trinta e poucos anos e não sabia ler. E por causa dessa ignorância assume culpas que não são suas. Submete-se a cargos de trabalhos sempre inferiores, mesmo quando é promovida ao melhor. Porque não revela a ninguém que não sabe ler. Tem uma profunada vergonha disso, talvez se sinta indigna por isso. Já pensou ser promovida numa fábrica e não assumir o cargo porque não sabe ler? E o que é pior, não pedir para permanecer no cargo antigo para não ter que explicar que assim deseja porque não sabe ler!? E o que é pior ainda, pedir demissão e se ver obrigada a aceitar qualquer outro trabalho que não lhe exija a leitura, mesmo que seja guarda dos campos de concentração nazistas!? Já pensou tomar para si a culpa da morte de 300 judeus só para não revelar que não sabe ler?! Já pensou ser condenada à prisão perpétua por isso?! Para nós que aprendemos o processo da leitura quando ainda somos crianças, e nem lembramos mais como tudo se deu, talvez isso seja banal, talvez julguemos que alguém que aje assim é no mínimo louco. Mas não! Porque não saber ler quando se tem 30,40,50 anos pode ser como ser cego para muitas pessoas. Era para a personagem. E só por isso eu me pus na pele dela, na alma dela... e sofri cada tapa que a vida lhe dava. Do mesmo modo que me encantei a cada descoberta que ela fazia. Quando seu leitor lia para ela não havia como não se encantar com o filme, porque ela sofria com as tragédias das narrativas, ela se emocionava com a leitura que, embora comum para ele, era totalmente novidade para ela. Nós é que perdemos a capacidade de nos emocionar com os livros, com as músicas, com a vida. Mas Hanna, personagem analfabeta, entendia disso melhor do que qualquer um. No entanto foi condenada como um ser monstruoso. Não é estranho que meia dúzia de pessoas sejam condenadas por um crime que toda a maioria da Alemanha de Hitler tenha cometido? Uma guarda que chorava ao ouvir um coro de igreja ( quer maior sensibilidade que esta?) foi condenada como insensível por um crime cometido por tantos outros alemães hipócritas, que apontavam-lhe o dedo gritando "nazizta!" E é possível que ela nem soubesse o que era o nazismo, dada sua ignorância. Ela apenas soube cumprir bem sua função de guarda, porque precisava do emprego. Meu Deus! Que filme! Uma mulher dura e tão doce ao mesmo tempo... uma criança de 30 e poucos anos descobrindo a vida ao lado de outra criança de 15 anos. Realmente nem me esforçando muito eu vou conseguir explicar todas as emoções que senti ao assistir a este filme. Porque ele não trata simplesmente de uma mulher que não sabe ler ou de um menino que lê para ela. É o que está além disso! É como nossa vida mesmo, que não trata apenas do que as pessoas vêem em nós, mas do que somos para nós mesmos e do quanto isso pode influenciar em todas as decisões que tomaremos por toda uma vida.Porque o que para uns pode ser banal, para nós pode ser fatal. Afinal, "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é!" Acho que vou terminar levantando a bandeira contra o analfabetismo, que entre tantas carências da massa carente de tudo, é carência também de outros que sabem ler, mas não entendem as entrelinhas, não sabem interpretar. Leiam! Não somente os livros,mas principalmente a vida. Porque quem entende da vida certamente vai ser meio como a Hanna diante de um bom livro: sempre maravilhada!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

- Mar

Em que tempo é melhor olhar para o mar? E quando digo tempo não me refiro à estação ou ao mês do ano. Falo de agora, do tempo que temos ao pensar no presente: manhã, tarde e noite. Em quais destes é melhor olhar para o mar? Aliás, em que tempo temos o melhor mar? Sei que a maioria gosta do mar da noite. Aquela tranqüilidade absoluta imperando sobre os apaixonados olhares, sobre os sons dos violões que insistem em soar Legião Urbana. Sim, porque não importa quanto o tempo passe, parece que todas as gerações de novos jovens vão viver sua fase Renato Russo de ser. E que saudades desse meu tempo! Quando eu me julgava por demais adulta sem saber que, quando de fato a fosse, aí sim me julgaria estupidamente infantil. Estupidamente porque não é somente aquela infância doce que habita em mim, aquela infância pura e cheia de vontade de brincar despretensiosamente sem medo dos olhares reprovadores. Habita em mim mais hoje do que nunca o quê infantil que nada entende. E isso sim é terrível. Principalmente porque a criança quando não entende, pergunta e pronto! Problema de quem estiver ao seu lado para ouvir os intermináveis porquês. Mas a mim não deixaram respostas, nem a quem perguntar.
Mas eu não posso me desviar do meu mar. Embora estas ondas da minha vida queiram sempre me levar para lugares cada vez mais confusos, desviando também sempre o ponto exato da questão. E o ponto é: Qual o melhor tempo do mar?
Se não é a noite, como eu bem acabo de concluir, então devem os admiradores da natureza pensar que é a tarde. Afinal, o que pode haver de mais lindo nesse nosso meio natural do que o pôr-do-sol? De fato é sublime! É mágico ver o céu se colorindo e poder pensar: Nada de azul-claro! Nada de azul-escuro! Nada de anil! Nada de nada! O céu é também vermelho, lindo, fogo, paixão! É amarelo! É laranja! Meio violeta... Ah! O céu é de todas as cores! E ver esse céu assim se pondo sobre o mar, então! Meu Deus! É sem dúvida a certeza de haver um Criador por trás de todas as criaturas.
Mas penso eu que o pôr-do-sol vem para que a noite chegue. E quando a noite chega é sinal de(perdoem-me a lógica estúpida) não haver mais sol. Não haver nosso astro para dar vida e luz! E olha que amo as estrelas! Tão lindas com seu brilho esforçando-se para ser clarão. Um negrume sobre nossas cabeças, mas elas estão lá, junto à lua, para tentar a luz.
E conseguem até! Mas vale lembrar que a luz da lua é reflexo do sol. E por mais que se empenhem em ser farol, sua luz ( por mais linda) não é capaz de clarear de fato. Só o sol para enxergarmos bem uns aos outros, sem óculos, sem nada. Sem o sol, os homens precisam de lâmpadas artificiais para ajudar no esforço das lindas estrelinhas do céu. E quando a noite chega( e o sol se vai) tenho pra mim que os peixes também vão dormir. E tudo no mar se acalma. Até aqueles que sobrevivem do mar se acalmam, retiram-se para esperar a alvorada. Os pescadores dormem e os sonhadores sonham com seus tesouros no fundo do mar, para que, assim que o dia acorde, ambos corram em busca de seu objetivos: peixes e baús, respectivamente.
Então, diante de toda esta verdade, qual o melhor tempo do mar? Talvez não seja assim para a maioria, mas para mim o melhor tempo é sempre o dia, a manhãzinha. Porque é quando o eu-mar é mais vivo. Crianças mergulhando nele(e em mim). Peixes brincando à vontade, porque com ajuda do sol conseguem mais facilmente fugir dos anzóis. Gente bonita bronzeando na beira do mar. E gente feia também, porque o mar é justo e igual para todos. E o sol ali, como o mar, para todos! Sem distinção! Sei que há uns que pensam que o dia nasceu para eles.( Imbecis, podem apostar!) E há também os que lutam por um lugarzinho ao sol. ( Porque não entendem a verdade de que o astro-rei é exatamente nosso: de todos nós). Mas apesar dos pesares, viva o sol, com tanta vida em si!
Qual o melhor tempo do mar, então? É o dia! Porque é só sem penumbras que podemos mesmo enxergar a vida como ela é. E sendo eu o mar dessa história ( confuso, com ondas que vão por onde ninguém navega, que se quebram arruinando disputas de surfistas, profundo bem mais que se possa imaginar, com mistérios jamais desvendados, e tesouros para sempre intocados; por vezes frio com quem busca calor, por vezes acolhedor como um beijo morno; aberto para quantos queiram me mergulhar e perigoso para quem não sabe nadar, inquieto e calmo ao mesmo tempo...) Sendo eu este mar tão mutante, sem dúvida que prefiro o dia. Porque é só durante o dia que os amores da minha vida se fazem presente, mostrando que há sempre um porto-seguro, uma vida alegre, como num domingo de praia ensolarado. Pra começar tem o sol, meu SOLbrinho lindo, solzinho que traz toda luz da minha vida: Sérgio Neto. E mergulhando em mim têm os peixes a brincar. Dentre eles, um mais especial: um peixinho chamado Samuel, desses bem inquietos que não param um só segundo e que, quando a noite chega, é sempre o último a dormir. E antes deles, para sempre, sempre esteve um baú de tesouros ( procuradíssimo pelos que almejam a riqueza, mas para sempre meu) : Meus pais e irmãos, base de tudo o que sou ( da parte de mim mais simples até a mais complexa. Daquilo que me fez mais feliz ao que me fez mais triste.Da doçura e da amargura.) E é preciso uma base assim para aprender a sobreviver nos dias de lama e a bem viver os dias de glória!
Enfim, eu nada seria sem o solzinho, o peixinho e o baú. Portanto, para sempre escolherei olhar o mar vivo. No tempo da manhã! -- Carol de Holanda--