Quem sou eu

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O LEITOR


" O que você seria capaz de fazer para esconder um segredo?"
Nossa! Nem sei como começar a falar sobre este filme! Sabe quando você ainda está digerindo uma comida super pesada? É preciso dias para que tudo se processe. Acho que é assim que me sinto. Tanto que já o assisti 4 vezes, talvez na intenção de mastigar melhor... Posso dizer que sorri, chorei, indignei-me com tudo o que vi. Talvez a expressão correta seja: fiquei passada mesmo! Encantada! E como sou dada a exageros, maravilhada! Angustiada! E vai, vai, vai, vai os tantos adjetivos para dizer de mim depois do filme. E se é verdade que um homem não se banha duas vezes no mesmo rio, porque já não é o mesmo homem; posso dizer que eu também sou um pouco outra depois de "O leitor". Entendam(ou tentem) um pouco de tudo que ainda tento entender: uma mulher que não sabia ler. Trinta e poucos anos e não sabia ler. E por causa dessa ignorância assume culpas que não são suas. Submete-se a cargos de trabalhos sempre inferiores, mesmo quando é promovida ao melhor. Porque não revela a ninguém que não sabe ler. Tem uma profunada vergonha disso, talvez se sinta indigna por isso. Já pensou ser promovida numa fábrica e não assumir o cargo porque não sabe ler? E o que é pior, não pedir para permanecer no cargo antigo para não ter que explicar que assim deseja porque não sabe ler!? E o que é pior ainda, pedir demissão e se ver obrigada a aceitar qualquer outro trabalho que não lhe exija a leitura, mesmo que seja guarda dos campos de concentração nazistas!? Já pensou tomar para si a culpa da morte de 300 judeus só para não revelar que não sabe ler?! Já pensou ser condenada à prisão perpétua por isso?! Para nós que aprendemos o processo da leitura quando ainda somos crianças, e nem lembramos mais como tudo se deu, talvez isso seja banal, talvez julguemos que alguém que aje assim é no mínimo louco. Mas não! Porque não saber ler quando se tem 30,40,50 anos pode ser como ser cego para muitas pessoas. Era para a personagem. E só por isso eu me pus na pele dela, na alma dela... e sofri cada tapa que a vida lhe dava. Do mesmo modo que me encantei a cada descoberta que ela fazia. Quando seu leitor lia para ela não havia como não se encantar com o filme, porque ela sofria com as tragédias das narrativas, ela se emocionava com a leitura que, embora comum para ele, era totalmente novidade para ela. Nós é que perdemos a capacidade de nos emocionar com os livros, com as músicas, com a vida. Mas Hanna, personagem analfabeta, entendia disso melhor do que qualquer um. No entanto foi condenada como um ser monstruoso. Não é estranho que meia dúzia de pessoas sejam condenadas por um crime que toda a maioria da Alemanha de Hitler tenha cometido? Uma guarda que chorava ao ouvir um coro de igreja ( quer maior sensibilidade que esta?) foi condenada como insensível por um crime cometido por tantos outros alemães hipócritas, que apontavam-lhe o dedo gritando "nazizta!" E é possível que ela nem soubesse o que era o nazismo, dada sua ignorância. Ela apenas soube cumprir bem sua função de guarda, porque precisava do emprego. Meu Deus! Que filme! Uma mulher dura e tão doce ao mesmo tempo... uma criança de 30 e poucos anos descobrindo a vida ao lado de outra criança de 15 anos. Realmente nem me esforçando muito eu vou conseguir explicar todas as emoções que senti ao assistir a este filme. Porque ele não trata simplesmente de uma mulher que não sabe ler ou de um menino que lê para ela. É o que está além disso! É como nossa vida mesmo, que não trata apenas do que as pessoas vêem em nós, mas do que somos para nós mesmos e do quanto isso pode influenciar em todas as decisões que tomaremos por toda uma vida.Porque o que para uns pode ser banal, para nós pode ser fatal. Afinal, "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é!" Acho que vou terminar levantando a bandeira contra o analfabetismo, que entre tantas carências da massa carente de tudo, é carência também de outros que sabem ler, mas não entendem as entrelinhas, não sabem interpretar. Leiam! Não somente os livros,mas principalmente a vida. Porque quem entende da vida certamente vai ser meio como a Hanna diante de um bom livro: sempre maravilhada!

2 comentários:

  1. Carol, o filme é realmente um raro momento de lucidez sobre a miseria humana. a miseria da solidão, da ausencia de amor, da presença do medo constantes. do fim das coisas simples, belas e suaves... talvez nem todos entenderão o filme como voce, isso é certo. mas fica claro que o filme, e o livro foram feitos pra que ao menos alguns possam entender a dor e a solidão de quem vive na escuridão do analfabetismo. a miseria de não puder entender a escrita, a linguagem. o que nos faz mais proximos uns do outros. a sensibilidade do filme me tocou muito, tambem, não pelo medo da protagonista em revelar sua ignorancia sobre a escrita, mas a feliciudade em seu olhar ao desvendar a vida a partir da leitura. gosto do seu jeito de ver as coisas. embora discordemos as vezes na vida pratica, na seara litearia realmente encontrei minha parceira ideal. te amo muito Dracon.

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  2. Carol, o filme é realmente um raro momento de lucidez sobre a miseria humana. a miseria da solidão, da ausencia de amor, da presença do medo constantes. do fim das coisas simples, belas e suaves... talvez nem todos entenderão o filme como voce, isso é certo. mas fica claro que o filme, e o livro foram feitos pra que ao menos alguns possam entender a dor e a solidão de quem vive na escuridão do analfabetismo. a miseria de não puder entender a escrita, a linguagem. o que nos faz mais proximos uns do outros. a sensibilidade do filme me tocou muito, tambem, não pelo medo da protagonista em revelar sua ignorancia sobre a escrita, mas a feliciudade em seu olhar ao desvendar a vida a partir da leitura. gosto do seu jeito de ver as coisas. embora discordemos as vezes na vida pratica, na seara litearia realmente encontrei minha parceira ideal. te amo muito Dracon.

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