Quem sou eu

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Como anda sua consciência?

" Dizes-me: tu é mais alguma coisa que uma pedra ou uma planta?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras,
porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas.
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que ser diferente."
( Fernando Pessoa)

Li este poema de Fernando Pessoa hoje e achei perfeito! Um pouco confuso, se lido rapidamente. Mas se lermos como devemos viver a vida- pensando sobre- logo o nó se desfaz. Porque ele é simples e óbvio. Há aqui uma comparação da humanidade com as pedras e plantas. E acho que ele escreveu isso para nos causar raiva mesmo, pra ver se, causando raiva, causaria também uma revolção dentro de nós, uma vontade de provar que somos mais ( muito mais!) que pedras e plantas. Ele ressalta, é claro, que existe uma diferença entre nós (humanidade) e entre os seres inanimados: nós temos consciência, e eles não. Mas fora isso podemos ou não ser diferentes, "porque ter consciência não nos obriga a ter teorias sobre as coisas." Ou seja, ter consciência no primeiro momento nos faz apenas saber que existimos, enquanto que as pobres pedras e plantas não sabem de si. Mas ter consciência não significa dizer que sabemos para quê existimos. E esta é a grande questão da poesia: afinal, qual nosso sentido aqui na Terra? Qual nossa função? O que fazemos aqui é de fato o que deveríamos fazer? E Fernando Pessoa nos esclarece isso parcialmente, porque deixa claro que ter consciência não é nada se não fazemos bom uso dela. Ou seja, estamos aqui primeiramente para usar corretamente nossa consciência, para nos valermos de boas idéias. Idéias estas capazes de transformar o mundo em que vivemos. Idéias que saiam do campo da consciência e virem ações. Como as que impulsionaram Alfred Blalock à descoberta de como fazer cirurgias cardíacas, como as que motivaram Zumbi a lutar com destreza contra a escravidão, como as que provocaram no profeta Gentileza a vontade de se tornar "amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento"( assim ele se dizia), pintando nos viadutos do Rio de Janeiro mensagens de paz e amor. Enfim, como as que incentivaram Fernando Pessoa a nos insultar com sua poesia crítica para ver se, assim, sentiríamos vontade de ser além das pedras e plantas. Porque se Deus nos criou com essa diferença, certamente não foi à toa. A poesia realmente me incomodou bastante, fez-me repensar a própria vida, o modo como venho agindo. E ao final de meus pensamentos, senti-me mesmo uma pedra: das maiores e mais pesadas! Mas senti também a vontade de mudar, a vontade de usar essa diferença que o Criador nos deu em relação aos outros seres, para fazer algo que realmente valesse a pena! Quero mesmo gastar minha consciência, porque a mim pouco importa só saber que existo. Quero dar sentido a essa existência! Quero sentir-me feliz por existir! Quero ver minha vida acontecendo... já que Deus plantou em mim a semente, quero ser além de uma árvore que dê sombra: quero dar frutos! E talvez se todos se sentissem incomodados com sua condição de pedras que sabem de si, e se esse incômodo fosse tão grande ao ponto de darem um primeiro passo, talvez houvesse jeito pro mundo. Porque quem usa de fato a consciência para o que Deus a criou, faz como os poucos que citei acima: promovem o bem para a humanidade, por entenderem a lição por trás do "AMÉM": AMEM!

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